terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem por que ama, nem o que é amar...

Alberto Caeiro

Dream a Little Dream of Me

Romy Schneider

Stars shining bright above you
Night breezes seem to whisper "i love you"
Birds singin’ in the sycamore trees
Dream a little dream of me

Say nighty-night and kiss me
Just hold me tight and tell me you’ll miss me
While I’m alone and blue as can be
Dream a little dream of me

Stars fading but I linger on dear
Still craving your kiss
I’m longin’ to linger till dawn dear
Just saying this

Sweet dreams till sunbeams find you
Sweet dreams that leave all worries behind you
But in your dreams whatever they be
Dream a little dream of me

(instrumental break)

Stars shining up above you
Night breezes seem to whisper "i love you"
Birds singin’ in the sycamore trees
Dream a little dream of me

Sweet dreams till sunbeams find you
Sweet dreams that leave all worries behind you
But in your dreams whatever they be
Dream a little dream of me

Yes, dream a little dream of me

Louis Armstrong

Irena Zablotska Art

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Chet Baker

sábado, 18 de dezembro de 2010

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Ricardo Reis

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O Vosso tanque General, é um carro forte

Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista

O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar

Bertold Brecht
"Palavra de honra que não penso em ti. Sinto-me bem, alegre, livre, contente, oiço o último comboio lá em baixo, adivinho as gaivotas que acordam, respiro a paz da cidade ao longe, desdobro-me num sorriso feliz e apetece-me cantar. Se eu tivesse telefone e me telefonasses agora deverias encostar cuidadosamente o auscultador à orelha numa expectativa de búzio: através das espiras de baquelite, vindo de quilómetros de distância, desta varanda de betão suspensa sobre o fim da noite, terias, juntamente com o eco do meu silêncio, o vitorioso eco do meu silêncio, o piano amortecido das ondas."

António Lobo Antunes

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Dois sentidos

Cada dia depois de cada dia
Dormindo estou, querendo te sonho
Sonhando estou, querendo te vejo
Diante de mim, nos meus braços te aperto
E nos meus braços, sentindo te quero
E nos meus lábios desejando te beijo
E nos teus ouvidos susurrando te digo:

Amo-te...
Amando-te...
Te amo...

Cada noite depois de cada noite
Escrevendo estou, querendo te choro
Chorando estou, querendo te grito
Onde estás meu amor, porque só a ti te sinto
E no meu peito, sentindo me rogo
E nos meus braços vazios me toco
E das minhas palavras vazias me despeço:

Morro-te...
Morrendo-te...
Te morro...

Vincent ESTRADA

sábado, 11 de dezembro de 2010

Não te quero senão porque te quero

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.
Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo. Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda
"O amor é feito do medo de ficar sozinho."
 Vincent ESTRADA

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tu que me amas

Escondo-me na minha sombra, sou um anjo caído. Faço amor contigo, mas não te sinto... Penso nela, sempre nela e rezo deitado ao teu lado, e desejo-a em teus braços. Quando ouso vestir-me e ir-me embora no apogeu da noite, tu ficas sozinha de mim e eu estou sozinho dela. Ambos temos algo em comum, amamos as pessoas erradas ou deitamo-nos com as pessoas certas.
Beijo-te a boca e despeço-me, enquanto tu reproduzes um sorriso triste e eu penso como és bela, porque me amas e me sentes, e eu penso como sou feio porque não te amo e não te sinto.

Adeus, até qualquer dia, tu que me amas...

Vincent ESTRADA

30 anos sem ele - John Lennon

"Nuvens... Existo sem que o saiba e morrerei sem que o queira. Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o sonho e o que a vida fez de mim, a média abstracta e carnal entre as coisas que não são nada, sendo eu nada também. Nuvens... Que desassossego se sinto, que desconforto se penso, que inutilidade se quero! (...)"

Fernando Pessoa 

domingo, 5 de dezembro de 2010

Vai-te, Poesia!

Vai-te, Poesia!

Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com bandeiras de lume nos olhos,
para fabricar sonhos
carregados de dinamite de lágrimas.

Vai-te, Poesia!

Não quero cantar.
Quero gritar!

José Gomes Ferreira

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Espreitava em seus olhos uma lágrima

Espreitava em seus olhos uma lágrima,
e em meus lábios uma frase a perdoar;
falou o orgulho, o seu pranto secou,
senti nos lábios essa frase expirar.
Eu vou por um caminho, ela por outro;
mas, ao pensar no amor que nos prendeu,
digo ainda: porque me calei aquele dia?
E ela dirá: porque não chorei eu?

Gustavo Adolfo Bécquer

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Porque não trocar um suspiro por um grito!?"

Vincent ESTRADA

domingo, 21 de novembro de 2010

"Para a mulher, toda reforma, toda salvação de qualquer tipo de ruína e toda renovação moral está no amor."
Fiódor Dostoiévski

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Ode do Desesperado

A morte está agora diante de mim
como a saúde diante do inválido,
como abandonar um quarto após a doença.

A morte está agora diante de mim
como o odor da mirra,
como sentar-se sob uma tenda num dia de vento.

A morte está agora diante de mim
como o perfume do lótus,
como sentar-se à beira da embriaguez.

A morte está agora diante de mim
como o fim da chuva,
como o regresso de um homem
que um dia partiu para além-mar.

A morte está agora diante de mim
como o instante em que o céu se torna puro,
como o desejo de um homem de rever a pátria
depois de longos, longos anos de cativeiro.
(...)

Herberto Helder

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

"Assim como era no principio"

Vincent ESTRADA 

ACORDAR TARDE

tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte

procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer

irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia

Al Berto

American Beauty


Marilyn Monroe

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

John Kenn Art

Sonho

Um cair de cabelos nos teus ombros
um suspiro preso à lembrança que
ficou, um brilho que se demora nos
olhos à janela, um eco que não passa

na memória de um murmúrio, o
abraço em que o tempo se suspende
a voz que dança por entre os ruídos e
silêncio, as mãos que não se libertam

num gesto de despedida, lábios que
outros lábios procuram, uma luz
que alastra na sombra que desce,

e uma sombra que se ilumina quando
a noite já cresce: tu sonho que
faz real a realidade em que te sonho.

Nuno Júdice
"O Breve Sentimento do Eterno"

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Poster Art - Eric Tan's

Disney Pixar


Up (2009)

WALL-E (2008)

The Incredibles (2004)
Ratatouille (2007)

Amor dos Fogos

....vêm sôfregos os peixes da madrugada
beber o marítimo veneno das grandes travessias
trazem nas escamas a primavera sombria do mar
largam minúsculos cristais de areia junto à boca
e partem quando desperto no tecido húmido dos sonhos
.... vem deitar-te comigo no feno dos romances
para que a manhã não solte o ciúme
e de novo nos obrigue a fugir....
.... vem estender-te onde os dedos são aves sobre o peito
esquece os maus momentos a falta de notícias a preguiça
ergue-te e regressa
para olharmos a geada dos astros deslizar nas vidraças
e os pássaros debicam o outono no sumo das amoras....
.... iremos pelos campos
à procura do silente lume das cassiopeias...

Al Berto

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Amanhã talvez

Amanhã talvez o sangue me escorra dos pulsos
e na fria noite
encontre o silencio...
Aí me dedico a respirar o ar abafado das velhas memórias
e a ejacular o clamor da puberdade.

Os gestos esvoaçam em movimentos mortos
cobrindo-me as entranhas de solidão
terrível solidão, terrível solidão!...
E fecho os olhos
e rogo deitado no chão
o fim da melancolia
de qualquer breve alegria por que passei
E no vazio assim como sabor do fim
invoco um vislumbre de beleza:
talvez de luz
talvez de medo
talvez de saudade...

Vincent ESTRADA

Mad Men 4th Season Finale

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

PORQUE SEM BELEZA NÃO SE AGUENTA ESTAR VIVO

Somos tu e eu no inferno do amor.
Limpo a cinza do rosto
sem tocar a morte que o cobre.
Nenhuma experiência é igual a outra.
Dividido, o texto é um destroço.
O abismo iluminado voltou. Matar-me-ás
com beleza, beleza.

O abismo iluminado voltou.
Numa manhã a Morte sorriu.
A criança vagueava. Um homem
de encontro a outro homem na beleza
da folhagem. Serás ele. Ela.
O poema nascia, cristalino.

Não existe saída na escuridão
da página. Quisera alienar-me
com o poema. Celebrar a vida
ou vaguear até ao suicídio.
Ninguém há que seja eu. A beleza
do início fala de um lodaçal
encoberto pela bruma das palavras.
O poema é um acto insurrecto.

Chegada é a hora propícia às sombras.
Do nada estoiram visões. Impossível
esconder o rosto ou fugir ao tumulto.
Crianças sem memória faleciam.
As palavras agitam-se em filamentos
de luz. O poema transforma
o nosso rosto naquele que desconhecemos.
Necessito de beleza, fortalece-me
a destruição, o desejo.

Ardem as páginas sob o gesto
frio da mão que escreve.
O menino louco. À sua infância
foi dado mais um ser que amou
inteiro. Há uma espécie de anestesia
que é também autismo. Crianças
com seus trajes fúnebres, grinaldas.
Por vezes tudo é ruína.
Esqueci-me das palavras
do passado. Não soube prescindir da beleza.
O teu corpo
agora menos só. Digo-te que desistas.
És desconhecida de ti.

Eram palavras brancas desenhadas a pincel.
Uma menina passou em busca de beleza.
Recolhia desencantos, visões. Nada sabia
do sentido do tempo. Pérolas rolavam
em direcção ao seio da mulher.
Rimo-nos primeiro com essa alegria
do princípio. E a tarde caía como nos romances.

Isabel de Sá

sábado, 23 de outubro de 2010

"Bebo para afogar as mágoas. Mas as danadas aprenderam a nadar."

Frida Kahlo 

O último poema



Sonhei tanto contigo,
caminhei tanto contigo, falei tanto,
amei tanto a tua sombra
que já não me resta nada de ti.
Só me resta ser uma sombra entre as sombras,
ser cem vezes mais sombra que a sombra,
ser a sombra que virá e voltará a vir
na tua vida ensolarada.


Robert Desnos

sábado, 16 de outubro de 2010

Mas que sei eu

Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

Ruy Belo
"Há mulheres que padecem da loucura e é isso o que eu mais gosto nelas."
Vincent ESTRADA
Robert Longo