terça-feira, 25 de maio de 2010

A single man by Tom Ford

A 30 de Novembro de 1962 George Falconer (Colin Firth) um professor universitário de 52 planeia pôr termo à sua vida. Todavia este não é um dia qualquer... durante este dia são-lhe reservadas diversas surpresas que o fazem avaliar e reavaliar a sua existência. Entre as peripécias deste dia, que não é definitivamente normal, encontram-se as memórias de Tim, (interpretado por Matheus Goode), o namorado de longa data de Falconer que faleceu meses antes, num fatídico acidente de automóvel.
Muito poucos, digo mesmo muito poucos filmes têm a capacidades de me inundar a mente de êxtase e me hipnotizar com tanta beleza e subtileza como este Homem Singular. Muito poucos, digo mesmo muito poucos conseguem transpor as barreiras do convencional e arrastar o espectador para um mundo cujas coisas mais simples e banais subsistem como as mais soberbas e brilhantes. Um Homem Singular transformou o estilista Tom Ford, num dos mais promissores directores de cinema da actualidade. Os actores são da melhor qualidade, os papeis assentam-lhes que nem uma luva e Colin Firth tem aqui o papel de uma vida. Juliane Moore também acaba por se destacar na pele da caprichosa melhor amiga de Falconer, Charlie.

Arte feita de disquetes e cassetes VHS

Official Website: http://www.nickgentry.co.uk/

A Infelicidade da Juventude

"Na aurora da nossa juventude, as cenas descritas pela poesia resplandecem diante dos nossos olhos, e o anelo atormenta-nos para vê-las realizadas, a tocar o arco-íris. O jovem espera que o curso da sua vida se dê na forma de um romance interessante. Nasce, então, a ilusão descrita no já mencionado segundo volume da minha obra principal. Pois o que confere a todas aquelas imagens o seu encanto é justamente o facto de elas serem meras imagens, e não a realidade, e nós, por conseguinte, ao intuí-las, encontrarmo-nos na calma e na suficiência plena do conhecer puro. Tornar-se realizado significa ser preenchido pelo querer, que inevitavelmente produz dores. "

Arthur Schopenhauer, "Aforismos para a Sabedoria de Vida"

Idêntico

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Hunger (2008)

Steve McQueen, artista plástico britânico (não confundir com o actor), encontra na história de um grupo de prisioneiros do estabelecimento prisional de Maze, a oportunidade de engressar pela primeira vez na realização. E de facto McQueen torna este Hunger (Fome), numa das mais emocionantes e dolorosas viagens cinematográficas dos últimos anos. Levando-nos a crer que esta não uma história vulgar, que esta não é uma realização qualquer, que estes actores sobretudo Michael Fassbender (no papel de Bobby Sands) dão o seu máximo para transformar Hunger num retrato inesquecível, num grito demasiado audível para nos ser indiferente.

É difícil não conseguir reagir a esta película que nos causa um constante desconforto mental, assim como algum enjoo (diga-se de passagem). Mas é exactamente na brutalidade e na crueza, que esta obra se desligue das suas demais contemporâneas.
Sabemos bem que já inúmeros filmes foram feitos acerca das cadeias, do quotidiano dos seus prisioneiros e da penosa realidade que estes enfrentam, mas é na forma como McQueen filma que se encontra a sua singulariade.
Inicialmente conhecemos Ray Lohan (Stuart Graham) um guarda, do já referido estabelecimento prisional. O rosto apagado e sua quietude parecem ser reflexo de uma mente transtornada pelo dia a dia, daquilo que vimos a conhecer - ser Maze. Um homem que se faz seguir pelos fantasmas e que, ainda sem se dar conta se divide em duas personalidades - do marido, filho, homem pacato de família, ao guarda violento que exerce a sua profissão. Pouco depois acompanhamos a entrada de Davey (Brian Milligan), o novo recluso, que logo se opõe à utilização da farda (própria para os presos). No entanto, este acaba por receber o mesmo tratamento dos outros prisioneiros e tal como os tais, pouco ao nada pode fazer. Na entrada na cela ele conhece Gerry (Liam McMahon) que leva a cabo o chamado "protesto da sujidade" ("Blanket and No-Wash Protest"). Mas, é apenas num já avançado tempo de filme, que conhecemos a personagem que encarna o seu expoente máximo, estou a falar, claro - de Bobby Sands. É numa ambiência de selvajaria extrema, de persistência e perturbação que nos surge o corpo agitado de Sands (mais à frente vimos também conhecer uma outra agitação do protagonista e, desta vez o corpo é só um meio para alcançar um fim que a mente exige).
Bobby Sands era um activista da IRA (Irish Republican Army), que com apenas 27 anos foi condenado a 14 anos de prisão pelo crime de posse de armas. Em 1981 dá inicio a uma greve de fome que tem como objectivo o melhoramento as condições dos prisioneiros políticos (do seu estatuto e direito).
Hunger perpetua um silêncio, um silêncio emocional. De uma banda sonora, que ainda que existente quase não seja perceptível, McQueen acaba por extrair do "silêncio" a chave da magnificência da sua obra. É apartir de planos de detalhados de pormenor e força dramática, foque e desfoque, de uma montagem tanto ritmada - composta por curtos planos; quanto lenta - composta por planos longos, que o autor encontra o seu traço identitário. Com a excepção de um take único de cerca de 20 minutos, sem cortes, nem mudança de planos, onde acontece uma conversa entre Bobby Sands e um padre católico (Liam Cunningham). Nesse diálogo, de entre muitos outras coisas que ambos falam, Sands expõe ao padre as razões pelas quais esta determinado a levar a cabo uma greve de fome ("Hunger Strike"). Cada um é movido pelos seus ideais - em que para o padre a greve de fome é tida como o próprio suicídio, enquanto que para Sands - uma arma, que tem a força de um grito capaz de derrubar os mais fortes alicerces da instituição penal. Ele que está decidido a sacrificar o corpo em nome de uma causa maior do que a sua própria existência. É após o final desta conversa acompanhamos o homem, Bobby Sands, na sua viagem solitária sem regresso. Com alucinações, um penoso sofrimento, mas com mente sã que nunca desvia o olhar do seu principal objectivo.
Uma obra que tem tanto de singela quanto de amadurecida - em que Steve McQueen se revela mais do que capaz de adoptar uma pura visão da realidade, que apenas o cinema europeu no seu melhor nos pode dar. Fazendo-se também acompanhar por uma equipa de extraordinários actores, entre os quais se destaca Stuart Graham (o guarda) e a já referida visceral interpretação de Michael Fassbender (Bobby Sands).
"Napoleão estava deprimido e decidiu suicidar-se, mas como achava que era muito mais resistente que um homem normal, tomou uma dose de veneno que dava para matar seis homens. O estômago rejeitou a quantidadde, que era demasiada. Napoleão foi salvo pelo seu ego!"

Quem a tem...

Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas embora escondam tudo
e me queiram surdo e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Jorge de Sena, Poesia II

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Carta de Condução

Já tive um carro da cor dos teus olhos. Deixava-o
estacionado à frente de prostíbulos onde alugava
quartos com vista sobre o quintal dos vizinhos.

Esperava por semáforos, sem saber que esperava
apenas por ti. No auto-rádio, a tua voz cantava
fados demasiado velhos até para a minha mãe.

A segunda circular era uma manifestação pacífica
de pára-brisas, as palavras de ordem eram simples
porque ainda não sabia que já me tinhas escolhido.

Quando os outros rapazes folheavam revistas de
carros nas aulas de matemática, eu apenas me
interessava por unicórnios e farmácias abandonadas.

Agora, os meus olhos contam quilómetros nos teus,
procuro papéis entre os papéis do guarda-luvas e
tenho tanto medo que me vendas em segunda mão.

José Luís Peixoto, "gaveta de papéis"

bunny suicides





Man Ray Fotografia


Sempre

Achei que tropeçaria em muitas palavras (muitas mesmo)
até chegar à frase mais perfeita
em sentido loucura forma e precisão.

Achei que usaria muitas máscaras (talvez não muitas)
para conhecer a fundo o papel de amante
e suas promessas, mais que verdadeiras, irrecusáveis.

Achei muitas coisas (talvez muitas)
mas jamais imaginei que pudesse nascer tão cedo
a glória e o risco profundos de dizer eu te amo.

Eu te amo ontem porque sempre te amei
Eu te amo hoje porque sempre te amo
Eu te amo amanhã porque sempre te amarei.

Jacinto Fábio Corrêa

Hino a Ísis

Malèna, Giuseppe Tornatore (2000)

Porque sou eu a primeira e a última
Eu sou a venerada e a desprezada
Eu sou a prostituta e a santa
Eu sou a esposa e a virgem
Eu sou a mãe e a filha
Eu sou os braços da minha mãe
Eu sou estéril, e os meus filhos são numerosos
Eu sou a bem casada e a solteira
Eu sou a que dá à luz e a que jamais procriou
Eu sou a consolação das dores de parto
Eu sou a esposa e o esposo
E foi o meu homem quem me criou
Eu sou a mãe do meu pai
Sou a irmã do meu marido
E ele é meu filho rejeitado
Respeitem-me sempre
Porque eu sou a escandalosa e a magnífica

Hino a Ísis, século III ou IV (?), descoberto em Nag Hammadi
"Todo o prazer é um vício, porque buscar o prazer é o que todos fazem na vida, e o único vício negro é fazer o que toda a gente faz."

Fernando Pessoa 

Éramos ambos, éramos só um ou não éramos nada.

Perguntei-me muitas vezes onde estavas tu. Porque olhavas e fingias que não vias, porque ouvias e fingias que não escutavas, porque não te calavas e fingias silêncio. Perguntei-me por ti, qual teu lugar dentro de mim e qual o meu lugar dentro de ti. Perguntei-me amor se este existia, ou se o havia perdido com o tempo, com o espaço ou com o corpo, se o havia perdido com a clemência e a loucura, com o exagero e a persistência.
Se te encontrava era porque o acaso nos unia, se não te via era porque o destino nos separava. Entre nós, havia sempre alguém que sentia mais, que chorava mais, que sofria mais. Havia sempre alguém a dar tudo por tudo para o amor continuar e a alguém a não dar nada para que este acabasse. 

Vincent ESTRADA
A solidão da árvore sozinha
no campo do verão alentejano
é só mais solitária do que a minha
e teima ali na terra todo o ano
quando nem chuva ou vento já lhe fazem companhia
e o calor é tão triste como o é somente a alegria
Eu passo e passo muito mais que o próprio dia.

Ruy Belo

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Rachmaninoff

Momento musical simplesmente divino!!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Ilustrações de Milo Manara utilizadas na campanha de roupa interior da marca Yamamay

Nas livrarias


«A morte das formas contemporâneas de ordem social deveria alegrar mais a alma do que perturbá-la. O assustador, porém, é que o mundo que parte deixa atrás de si não um herdeiro, mas uma viúva grávida. Entre a morte de um e o nascimento de outro, muita água correrá, uma longa noite de caos e de desolação há-de passar.»

Alexander Herzen
Sou o veneno que te dei a beber
O segredo que não conseguíste esconder
Sou a fé do Ateu
A mão direita do esquerdino
Sou o cego a ver o vermelho
A noite iluminada pela escuridão
Sou a chávena quente de café frio
Sou as maças que Eva não comeu
O inferno que Dante nunca conheceu
Sou a voz que nunca conseguíste ouvir


Vincent ESTRADA, 17 de Dezembro de 2007

Estudo de nu

Essa linha que nasce nos teus ombros,
Que se prolonga em braço, depois mão,
Esses círculos tangentes, geminados,
Cujo centro em cones se resolve,
Agudamente erguidos para os lábios
Que dos teus se desprenderam, ansiosos.


Essas duas parábolas que te apertam
No quebrar onduloso da cintura,
As calipígias ciclóides sobrepostas
Ao risco das colunas invertidas:
Tépidas coxas de linhas envolventes,
Contornada espiral que não se extingue.


Essa curva quase nada que desenha
No teu ventre um arco repousado,
Esse triangulo de treva cintilante,
Caminho e selo da porta do teu corpo,
Onde o estudo de nu que vou fazendo
Se transforma no quadro terminado.



José Saramago, "poemas possíveis"

30 anos depois...


Foi no dia 18, do mês de Maio (tal como hoje) que Ian Curtis há 30 anos cometeu o suicídio. Na noite anterior havia pedido à mulher que o deixa-se sozinho em casa. Fumou cigarros, esvaziou uma garrafa de whisky, pós a girar o vinil “The Idiot” de Iggy Pop, viu televisão, o filme “Stroszek” de Werner Herzog e escreveu uma carta em que a segunda frase era: “Já não aguento mais.”
Especula-se, ainda hoje a causa de tão prematura morte. Era o génio por detrás da banda, que ele mesmo escolheu o nome: Joy Division. E ainda que uma pessoa tão próxima dele, como a mulher, tenha escrito o livro ("Touching from a Distance"), a verdadeira figura de Ian Curtis permanece uma incógnita.
Ian Curtis morreu na véspera de uma digressão aos Estados Unidos, digressão esta que certamente iria catapultar a banda para o sucesso mundial. Morreu com apenas 23 anos e estava no auge da sua carreira.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Explicação da Eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.


José Luís Peixoto, "a casa, a escuridão"

quando eu ainda rezava e acreditava no amor


quando eu ainda rezava e acreditava no amor.
era a tua imagem que eu via na minha consciência. era em ti que eu pensava sempre, mais do que pensava em mim
tu eras a mulher da minha vida, eras o meu futuro, a minha maldição e o meu destino
eras o vazio e o cheio dos meus dias.
porque eu ainda acreditava nessa época e rezava e gritava dentro de mim AMOR, AMOR, AMOR e tu respondias.
e eu pensava que era verdade. que existias assim e que eras a mais perfeita mulher da terra
tu habitavas ingénua e cheia de vida na minha consciência. vida que me davas e eu te dava a ti
quando eu ainda rezava e acreditava no amor. tu sofrias porque ninguém te amava, choravas e eras solitária e eu achava que podia curar a tua tristeza, que podia beijar as tuas lágrimas, absorvê-las do teu rosto e do teu coração e assim acabar com todo o desespero do mundo.
mas eu estava errado!
eu é que era ingénuo
eu é que chorava e sofria
e a cada dia, tinha mais de ti dentro de mim e menos fora
quando me dei conta da verdade já tu estavas mais longe, muito longe. e eu apercebi-me que já estavas longe demais

era tarde, tarde...
quando te perdi no real, perdi-te também no sonho, perdi a fé e deixei de rezar e deixar de acreditar no amor. e deixei de acreditar que até no real tu ainda continuarias a existir

Vincent ESTRADA
Ian Curtis, Anton Corbijn (197?)

sábado, 15 de maio de 2010

Lolita - Lost Scene


Existem cenas que nunca deveriam ser eliminadas da montagem final de um filme!! 

Quebramos Os Dois

Le dernier métroFrançois Truffaut (1980) 


Era eu a convencer-te de que gostas de mim,
Tu a convenceres-te de que não é bem assim.
Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro,
Tu a argumentares os teus inevitáveis.

Eras tu a dançares em pleno dia,
E eu encostado como quem não vê.
Eras tu a falar p'ra esconder a saudade,
E eu a esconder-me do que não se dizia.

Afinal...
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois...

Desviando os olhos por sentir a verdade,
Juravas a certeza da mentira,
Mas sem queimar de mais,
Sem querer extingir o que já se sabia.

Eu fugia do toque como do cheiro,
Por saber que era o fim da roupa vestida,
Que inventara no meio do escuro onde estava,
Por ver o desespero na cor que trazias.

Afinal...
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois...

Era eu a despir-te do que era pequeno,
Tu a puxares-me para um lado mais perto,
Onde se contam histórias que nos atam,
Ao silêncio dos lábios que nos mata.

Eras tu a ficar por não saberes partir,
E eu a rezar para que desaparecesses,
Era eu a rezar para que ficasses,
Tu a ficares enquanto saías.

Não nos tocamos enquanto saías,
Não nos tocamos enquanto saímos,
Não nos tocamos e vamos fugindo,
Porque quebramos como crianças.

Afinal...

Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois...

É quase pecado que se deixa.
Quase pecado que se ignora.


Toranja, "Segundo"(2005) 
"As próprias mulheres, no fundo de toda a sua vaidade pessoal, têm sempre um desprezo impessoal - pela mulher."




Friedrich Nietzsche
- Head On -
Gegen die Wand, Fatih Akin (2004)

Sibel (sibel kekilli) encontra finalmente o homem que desejava, ele não é propriamente um modelo de marido, mas tem o único requisito indispensável: é Turco. Cahit (birol ünel) apesar de se manter relutante inicialmente, acaba por ceder, casando com a Sibel. Todavia aquele que era um casamento arranjado por ambos, sem amor, nem qualquer tipo de cumplicidade, de uma relação que parecia estar condenada a dois corpos que coabitam no mesmo espaço como amigos ou até mesmo como irmãos, acaba por se tornar numa invulgar história de amor, cujo destino agridoce os encaminha para a distância física, mas para a união espiritual, numa das mais deslumbrantes e adversas viagens sobre o amor.
Do mesmo realizador do admirável " Auf der anderen Seite"(Do Outro Lado).

sexta-feira, 14 de maio de 2010


...Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é idiotice.
Tu não só não esqueces a outra pessoa como pensas muito mais nela...
Um dia nós percebemos que as mulheres têm instinto "caçador" e fazem qualquer homem sofrer ...
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia saberemos que ser classificado como "bonzinho" não é bom...
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em ti...
Um dia saberemos a importância da frase: "Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas..."
Um dia percebemos que somos muito importantes para alguém, mas não damos valor a isso...
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas aí já é tarde demais...
Enfim...
Um dia descobrimos que apesar de viver-mos quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos
todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer-mos o que tem de ser dito...
O modo é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas
as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tão pouco compreenderá uma longa explicação.

Mario Quintana
tradução. Vincent ESTRADA

NEGA-ME TUDO

La Belle Personne, Christophe Honoré (2008)

Nega-me o corpo. a alma. o sangue. a voz. o sorriso. o medo. o olhar. a pele. o vazio. a raiz. o cabelo. a veia. o cheiro. o suor. as faces. as unhas. a boca. os lábios. a língua. a sensação. as roupas. os farrapos. os trapos. as histórias. os contos. o recantos. as angústias. os dias. as noites. as manhãs. o sol. a lua. a luz. a escuridão. a evasão. as crianças. a música. as letras. as palavras. os receios. as antecipações. as decepções. os braços. as mãos. a carne. a foda. as janelas. as portas. o silêncio. o frio. o calor. o vento. a tempestade. a água. a húmidade. o amanhecer. o entender. o fogo. a chama. a tentação. a reflexão. o suspiro. os traços. os maços de cigarros. o medo. os gestos. os apagões. a lentidão. o pensamento. o momento. o gozo. a esperança. a morte. a ressurreição. o tempo. o espaço. o toque. a maneira. a mania. a brincadeira. a predilecção. o nervo. o pêlo. o cabelo. o caminho. o regresso. a ressurreição. a tristeza. a alegria. a saudade. a vaidade. a acidez. a estupidez. o erro. o perdão. a dor. o sexo. a essência. a lembrança...
o amor.
Vincent ESTRADA

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quem são estas mulheres com que me deito? Que não querem ter filhos porque lhes deformam o corpo, que não querem amar para não estarem presas a ninguém. Quem são estas mulheres afinal, que não fazem ideia o que de facto "ser-se" mulher. Se me deito com elas, é porque sinto falta, não delas mas dela em especial. É porque a PROCURO nelas, no CORPO delas, na ALMA delas. Não a encontro nunca. Nunca.

Vincent ESTRADA

Vamos falar da Verdade

Ficámos em silêncio, com as nossas consciências a sussurrarem-nos ao ouvido. Ficámos parados, a sentir o cheiro um do outro e a distância, sem saber o que dizer. Eu falo sempre acerca das minhas fraquezas, típicas da juventude, como me dizes. E pela primeira vez falaste-me das tuas também. Eu nunca te tinha visto tão frágil e debilitado. Falamos de tudo e de nada e de nada, antes…
Eu pisquei os olhos, cerrei os lábios e engoli a saliva. Tu tocaste-me no cabelo, sem qualquer sentimento de culpa – vi isso nos teus olhos. Continuaste… tacteando-me o rosto, as faces, o nariz, olhos… depois pressionaste ambos os polegares, fazendo-os entrar na minha boca. Eu já nem sequer consegui engolir a saliva, nem consegui respirar. Sentindo a força com que os teus dedos entravam dentro de mim.
Não voltamos a falar nas semanas que se seguiram, fingimos, como dois mentirosos, que nada havia acontecido.
Eu continuei a cantar todas as noites nos bares habituais. E tu, como sempre, vinhas assistir. Sorrias amavelmente, davas alguns goles no whisky, batias-me palmas. Porém no final do espectáculo apenas te despedias com um “adeus” – adeus esse que me amargurava sorrateiramente a alma, fazendo-me duvidar do teu regresso, no dia seguinte.
Mas esse olhar nunca me enganou.
Algo aconteceu e foram apenas precisos mais alguns dias.
Foi num intervalo de um dos espectáculos, que não fora, nem de perto nem de longe, das minhas melhores noites… era apenas mais uma como tantas outras. Dirigi-me à casa-de-banho, salpiquei o rosto com água e olhei-me ao espelho. As olheiras haviam-se intensificado (antes sobrepostas por uma camada de espessa maquilhagem que se havia evaporado com o suor). “Não admira” – pensei, fazia algumas noites que não pregava olho, aproveitando-me do álcool e do vício do café, para me aguentar. Deixei cair a cabeça, soltando-a por momentos… ergui-a e olhei-me novamente ao espelho. Uma mulher olhava-me através do reflexo, fixamente. Parecia penetrar-me na alma. Era bonita, com uns longos cabelos castanhos e olhos cor de azeitona. Devia ter cerca de trinta anos...
Ficámos ali, duas mulheres, a olharem-se através do espelho, com falta de coragem para se olharem directamente.
– Não está a ver quem sou?
Acho que arregalei os olhos nesse exacto momento, revirando o meu corpo e fazendo-me vê-la de frente.
– Sou a mulher do homem com quem andas a dormir.
Gritei dentro de mim… desesperada, enquanto ecoaram nos meus ouvidos aquelas letras, aquelas palavras, aquela frase. Tive nojo de mim mesma, dos meus pensamentos, das minhas lembranças. Tive nojo de te amar tanto e ao mesmo tempo da minha impotência em frente àquela figura. Ela não me bateu (coisa que eu fazia se tivesse acontecido comigo), nem tão pouco me insultou.
Eu deixei fugir uma lágrima, que me deve ter descido pelo rosto e caído no coração. Ouvi a minha voz, a melodia de uma canção fúnebre que eu cantava no meu enterro. Imaginei-nos aos dois, condenados com o suor a escorrer-nos do rosto de tanto prazer que estávamos a sentir… imaginei o teu rosto e o teu corpo quente sobre o meu. Senti receio, mas nunca arrependimento.
Ela prosseguiu de cabeça erguida, dizendo:
– Vamos falar da verdade.


"TUA" - Diário de Bianca (terceira parte da trilogia dos rios)
dE Vincent ESTRADA
Está garantida a presença de Beirut no festival Sudoeste a 8 de Agosto de 2010. Sem dúvida um concerto que eu não irei querer perder!
"Se não se passou pela obrigação absoluta de obedecer ao desejo do corpo, isto é, se não se passou pela paixão, nada se pode fazer na vida."
Marguerite Duras
-O Paraíso-
Heaven, Tom Tykwer (2002)

Phillippa (Cate Blanchett) é uma professora de Inglês, a viver em Turim, que pretende vingar a morte do marido. Para isso ela planeia matar um homem, colocando uma bomba feita por si no seu escritório. Mas nada corre como planeado e quatro inocentes, entre eles duas crianças, morrem. Phillippa é rapidamente capturada pela polícia local e colocada sob interrogatório. Entre os policias esta um jovem italiano, (Giovanni Ribis), que para além de acreditar piamente na história da detida, ainda desenvolve uma paixão secreta por ela. Paixão que o levará a abandonar a carreira e a vida que teve até então.
Heaven é baseado na inacabada trilogia Heaven, Hell and Purgatory, escrita por Krzysztof Kieslowski.
Do mesmo realizador de Lola rennt (Corre Lola Corre) e mais recentemente Perfume: The story of a murderer (O Perfume).

quarta-feira, 12 de maio de 2010

My Funny Valentine

Romy Schneider


My funny Valentine
Sweet comic Valentine
You make me smile with my heart
Your looks are laughable, unphotographable
Yet you're my favorite work of art

Is your figure less than Greek?
Is your mouth a little weak?
When you open it to speak, are you smart?

But don't change a hair for me
Not if you care for me
Stay little Valentine, stay
Each day is Valentine's Day

Is your figure less than Greek?
Is your mouth a little weak?
When you open it to speak, are you smart?

But don't change a hair for me
Not if you care for me
Stay little Valentine, stay
Each day is Valentine's Day



Frank Sinatra

Violinist



Jovem talentoso este Charlie Siem

Folk Boys

-LA BLOGOTHEQUE-


500 Days of Summer

 Será que "a tal" ou "o tal" existem mesmo?
Para desgosto de muitos (como eu, por exemplo) 500 Days of Summer não chegou a estriar em território nacional. Felizmente que esta magnificente criação do século XX, chamada - internet, me permitiu que este filme estivesse à simples distância de um clique, assim como a respectiva banda sonora. No entanto após ter assistido a este em casa, senti uma séria desilusão, direi mesmo: pena, por não ter tido sequer a oportunidade de o ter visto no cinema. 500 Days of Summer além de ser um dos melhores filmes do passado ano de 2009 é também uma das melhores comédias românticas de todos os tempos, colocando-se a par de obras como "Juno" e "Eternal Sunshine of the Spotless Mind."
"This is the story of a boy meets girl" e ainda... "This is not a love story. It is a story about love" estas são as frase que nos iniciam nesta trama de amor não correspondido, onde Tom (Joseph Gordon-Levitt) um arquitecto frustado e escritor de cartões-postais conhece e se apaixona por uma colega de trabalho, Summer (Zooey Deschanel). Ele ama-a desde a primeira vez que a viu. Ela não. 
O filme desenvolve-se em volta dos 500 dias em que Tom esteve com a Summer, a perdeu e a tentou conquistar novamente. Durante esse tempo vê-mos o romântico e sonhador Tom, que acredita impreterivelmente no amor  enquanto Summer, "a realista" e inconstante, se nega a admitir que este existe. Com gostos musicais idênticos, todavia com ideais de vida completamente diferentes Tom e Summer iniciam-se numa divertida, ainda que tempestuosa relação.  
Realizado por Marc Webb e escrito por Scott Neustadter e Michael H. Weber este 500 Days of Summer marca o regresso do movimento "Indie" no panorama cinematográfico norte-americano.

BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mario Quintana

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Quando nasci.

quando nasci. esperava que a vida.
me trouxesse. a terra. quando nasci.
esperava que a vida. me trouxesse.
as árvores. e os pássaros. e as crianças.
quando nasci. tinha o mundo. todo.
depois dos olhos. depois dos dedos.
e não percebi. não percebi. nada.
nunca imaginei. quando nasci. que a vida.
quando nasci. já era a escuridão. a escuridão.
em que estava. quando nasci.

José Luís Peixoto, "a criança em ruínas" 

Grace


Beauty


Romy Schneider em "L'Enfer", de Henri-Georges Clouzot

Tony Takitani e a "Insustentável Leveza do Ser"

Nunca a fotografia cinematográfica esteve tão sublime, num retrato narrativamente simples e excepcional acerca da condição humana, Tony Takitani é poesia pura. É o cinema que transpõe as habituais barreiras e que emana uma essência tão peculiar que todo ou qualquer espectador fica rendido à beleza das imagens, à pureza do quotidiano doméstico e citadino de um homem simples e solitário, cujas perdas e danos da sua vida o encaminham em direcção a um isolamento cada vez mais profundo.
Filho de um músico jazz, Tony Takitani é desprezado pelos outros enquanto criança devido ao seu nome de influência americana - Tony. A perda da mãe pouco tempo após o seu nascimento e o abandono do pai devido à sua carreira, fizeram da solidão um estado permanente na sua vida. Mais tarde descobriu uma invulgar habilidade para o desenho o que o fez tornar-se num ilustrador técnico, factor este, que lhe providenciou em adulto uma vida cómoda e indinheirada. Todavia o vazio da sua vida só é preenchido quando conhece uma bela e jovem mulher com quem casa pouco tempo depois e com a qual é bastante feliz ainda que, por um breve período de tempo. A jovem esposa de Tony tinha um vicio crescente, esta adorava moda e o guarda-roupa da casa de ambos ia-se enchendo de roupas e sapatos caros. A obsessão dela acaba por fazê-la sofrer um acidente rodoviário resultando na sua morte e, como se não bastasse a tragédia, pouco tempo depois o pai de Tony acaba por morrer também, deixando o filho sem nenhum laço emocional no mundo.
Tony Takitani é um retrato realista ainda que metafórico da vida de um homem. Baseado na pequena história de autoria de Haruki Murakami e realizado por Jun Ichikawa, esta obra envolve-nos numa apaixonante leveza do ser, cujos planos cirúrgicamente escolhidos e banda sonora a bom gosto resultam numa espécie de conto cinematográfico


Rene Magritte - La Pretre Marie