terça-feira, 22 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Poema à boca fechada

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

José Saramago, "poemas possíveis"

Lisa Gerrard em Man on Fire

Adeus José Saramago (1922-2010)

Morreu o nosso prémio Nobel da Literatura.

A noticia do falecimento de pessoas que tiveram uma importância singular na nossa cultura é para mim, sempre tida com enorme desgosto e surpresa, porque não me acredito na morte dessas pessoas. Porque há pessoas que nunca morrem, alias que nunca deveriam morrer. Sinto-o e sei que eles deixaram um legado, deixaram um contributo para a humanidade. Saramago afirmaou que nunca morreria quando venceu em 1998 o Prémio Nobel da Literatura, com o livro Ensaio Sobre a Cegueira
José Saramago tinha conhecimento da sua mortalidade, sabia que a sua ultima obra seria Caim (2009), sabia que a idade já era demasiado avançada e que o tempo não perdoa ninguém. Morreu com 87 anos, no local em que foi mais feliz, na ilha de  Lançarote, acompanhado pela sua família. 
Adeus José Saramago A Mente Brilhante da Literatura Portuguesa.

terça-feira, 15 de junho de 2010

200 anos de Schumann

Cinema português



Palavra que as minhas expectativas em relação a este "Um Funeral à Chuva" de Telmo Martins, são bastante grandes, devido a este trailer, que me faz já pensar neste filme como algo apetecível e digno de ser visto no cinema, mas devido sobretudo, à sua cotação de 7.0/10 no IMBD muito boa, diga-se de passagem.
"Penso: talvez haja uma luz dentro dos homens, talvez uma claridade, talvez os homens não sejam feitos de escuridão, talvez as certezas sejam uma aragem dentro dos homens e talvez os homens sejam as certezas que possuem."

José Luis Peixoto, "Nenhum Olhar"

Goodnight


Letter from an Unknown Woman, Max Ophüls (1948)
My Lovely woman child
I found you out running wild with someone new
You've been untrue, And everybody knows we're through

But I can't say goodbye to you, No matter what you do
My heart won't let you go, Although I know you go
With someone new, I think of you

I think of how you kiss, Your tenderness
With all of this, I miss the way you say goodnight

Bittersweet, your kisses, When my heart still misses
The way that things used to be, But I know you're strong for
Other arms you long for, And you can never come back to me

Not just for yesterday, tonight or tomorrow
Ah, but forever
I'll hear you say goodnight, goodnight
Goodnight turned out to be a lie
And I can't help it if I cry
Goodnight my love, Sleep tight my love
Goodnight

Roy Orbison

segunda-feira, 14 de junho de 2010

"Esse dom de observação que se chama conhecimento do mundo, vereis que na maior parte dos casos serve para tornar os homens astutos e não propriamente para os tornar bons."
Samuel Johnson

Jeff Buckley Cover

Lost - The End

-Live Together Die Alone-
-Dream Together Cry Alone-

Poster Art - Séries





domingo, 13 de junho de 2010

Pensar

Na última noite nem sequer consegui dormir. Na última noite não pensei no passado, nem no presente, nem no futuro. Não pensei no tempo que perdi sem pensar em nada, nem no tempo que estou a perder a escrever estas linhas. Como ontem era, hoje sou, como ontem não pensava, hoje não penso, e se acham que pensar naquilo que se pensa ou não pensa é pensar então, vocês não pensam também. Porque pensar tem tanto de inútil como de necessário, pensar é o erro da razão e a razão do erro. Se hoje não durmo por pensar no que penso, amanhã não dormirei porque continuarei a pensar sem pensar em nada.

Vincent ESTRADA, 5 de Junho de 2010

A Mulher Mais Bonita do Mundo

estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.

entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.

entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.

há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.

estás tão bonita hoje.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.



José Luís Peixoto, "a Casa, a Escuridão"

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Planos que mudaram a minha vida

-Yi ngoi (2009)-
Em breve escreverei acerca desta obra prima da sétima arte...
 

Música da cena final do filme alemão Vier Minuten de 2006. 
Quando 4 minutos apenas, são mais do que suficientes para fazer algo que mais nem ninguém teve coragem de fazer.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Há um lugar chamado medo

A cidade, ao longe o ruído.
Ficamos sózinhos, peças de xadrez
na mancha escura do silêncio,
de um lado para o outro,
à espera.

Não me disseram que o tempo passaria
e tu também. A morte repetida
como se fosse a primeira vez.
No longo e doloroso abraço,
o sabor amargo da vida
tornou-se lei.

João Borges

Projecto CRONO - “Um roteiro de Arte Urbana em Lisboa”

-12 Meses | 4 Estações | 16 Artistas-

"CRONO nasce de um compromisso com a Arte Urbana assente na premissa de que somos todos tão efémeros como todas as nossas criações - uma forma de pensar o tempo e de pôr em evidência uma nova dimensão da cidade: a cidade como organismo vivo que se constrói e cria de uma forma espontânea, natural e livre. É nesta dinâmica de apropriação de espaços de Lisboa que, em quatro momentos que correspondem às quatro estações do ano, serão desenvolvidos trabalhos de pintura de impacto urbano e registos de diferentes ambientes da capital através do tempo.

Esta iniciativa inédita nasce de um desafio lançado por Pedro Soares Neves (designer urbano), Alexandre Farto (Artista plástico) e Angelo Milano (criador do FAME Festival) a Artistas nacionais e internacionais da Arte Urbana no panorama do graffiti , da street art e das demais formas de expressão criativa no espaço colectivo.

Com o objectivo de estabelecer um roteiro de Arte Urbana em Lisboa em quatro momentos do ano, uma selecção de artistas internacionalmente consagrados são convidados a desenvolver intervenções conjuntas com artistas nacionais e comunidades locais num processo de “curadoria urbana”, a qual conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa para a disponibilização de espaços da cidade para o efeito. 
Através destas intervenções conjuntas que interagem com a paisagem urbana de forma inusitada, o ‘Crono’ revela-se um projecto cultural ímpar de promoção de Arte urbana enquanto oportunidade de aproximação, diálogo e comunicação dos artistas e dos cidadãos/habitantes à cidade de Lisboa.

O ‘Verão’ é a estação que marca o início do projecto com a primeira intervenção conjunta de OSGÉMEOS (Brasil), Blu (Itália) e SAM3 (Espanha) com artistas locais como NOMEN, SEN, RISCO, ARM, KREYZ, HIUM em dois locais emblemáticos da cidade – Avenida Fontes Pereira de Melo e Campo de Ourique (Rua José Ferreira)."

"A Arte Urbana é afinal uma prática ancestral, vigorosa e fecunda e que é partilhada por todos, técnicos, artistas e cidadãos." Pedro Soares Neves

texto extraído do site da Câmara Municipal de Lisboa 

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Este quarto...

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto…
que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.
A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim…

Mario Quintana

Sally Mann Fotografia

Ludwig & Kubrick - Cenas Inesquecíveis

terça-feira, 1 de junho de 2010

Grant Wood

Saudade

Um rasgão de luz sobre a pele, dormes na seiva doce das manhãs.
Mas sabes que só há repouso para o sofrimento quando se entra no primeiro dia dos dias sem ninguém.
(…) Viajo, sem me mexer desta enxerga branca. Tento encontrar espaço para a lucidez do meu silêncio.

Al Berto, “Horto de Incêndio”