quarta-feira, 14 de março de 2012

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ophelia


John Everett Millais(1851)

Temos, todos que vivemos


Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.






Fernado Pessoa

Por muito tempo achei que a ausência é falta

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

WOODKID - Iron



Breve descoberta... 
O primeiro álbum do francês Yoann Lemoine, que é para além de músico, fotógrafo e realizador.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

É assim que te quero, amor

É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Pablo Neruda

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

My ideal

Will I ever find the girl in my mind?
The one who is my ideal
Maybe she's a dream and yet she might be
Just around the corner waiting for me

Will I recognize the light in her eyes
That no other eyes reveal
Or will I pass her by and never even know
That she was my ideal

[Instrumental solos]

Will I recognize the light in her eyes
That no other eyes reveal
Or will I pass her by and never even know
That she is my ideal

Chet Baker

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

India Song

Letreiro


Porque não sei mentir,
Não vos engano:
Nasci subversivo.
A começar por mim – meu principal motivo
De insatisfação -,
Diante de qualquer adoração,
Ajuízo.
Não me sei conformar
E saio, antes de entrar,
De cada paraíso.

Miguel Torga

Melancolia

Há um travo na língua
onde os gritos se transformam em suspiros
e os dias tão longos... tão dispersos
se desmontam em sentimentos tristes.

Vincent ESTRADA

Serenata


Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

Cecília Meireles

Quando ela passa

Quando eu me sento à janela
Plos vidros que a neve embaça
Vejo a doce imagem dela
Quando passa... passa... passa...

Lançou-me a mágoa seu véu: -
Menos um ser neste mundo
E mais um anjo no céu.

Quando eu me sento à janela,
Plos vidros que a neve embaça
Julgo ver a imagem dela
Que já não passa... não passa...

Fernando Pessoa

sábado, 21 de maio de 2011

Depoimento

Deponho no processo do meu crime
(Sou testemunha
E réu
E vítima
E juiz)
Juro
Que havia um muro,
E na face do muro uma palavra a giz.


Merda! – Lembro-me bem.
– Crianças... – disse alguém
Que ia a passar.
Mas voltei novamente a soletrar
O vocábulo indecente,
E de repente,
Como quem adivinha,
Numa tristeza já de penitente,
Vi que a letra era minha...


Miguel Torga

domingo, 8 de maio de 2011

Crepúsculo

É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.

David Mourão-Ferreira